terça-feira, 11 de maio de 2010

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Arrasto a vergonha pelo caminho, como as migalhas do pão com bolor que caem da mão pisada de uma criança infeliz que procura perder-se, eu não me quero perder, mas arrasto-a, deixo uma mancha incolor no vómito azul do céu, que ninguém vê mas sente-se; eu pelo menos sinto, tanto quanto a quantidade exacerbada de pensamentos que nos trespassam na rua, meus, teus, de todos os transeuntes nauseabundos a pecado; se a alma fosse como o corpo, sentiríamos uma picada, na qual a sua intensidade variasse segundo a profundidade de cada ideia que apanhamos, mas não o é; e, não o sendo, como é possível conhecermos uma maneira comum de a destruirmos?
É verdade que qualquer ser vivo racional ao passar por um mesmo sítio teve o mesmo pensamento, quiçá alguns não se apanhem pelo passeio, quiçá o homem bonito de meia-idade não estará a pensar em matar o patrão, em segurar o revólver que delicadamente guarda por baixo da sua travesseira, quiçá já não o usou, quiçá o que está por baixo da sua cama seja pura e simplesmente um mero prolongamento do inconsciente, oh deus, sabe-se lá o que por ali vai…mas também ninguém quer saber. Cada centímetro de algodão puro alberga milhares de sonhos, já nas nuvens, sempre que ficam molhadas, albergam o período fértil da mulher que abrange quase toda uma vida de um homem, e, no fundo, o medo.
Vigio o homem, sentei o meu corpo no banco de rua com mais história que a bíblia, encostei-o bem, desfoquei a visão, estava agora a atravessar para o outro lado, estes já não focavam o homem, mas a cor garrida que este libertava, vi a sua alma a dançar, a minha estava apenas a assistir ao espectáculo; é assim que gosto de estar, era assim que preferia ficar a minha vida toda, gravava o som do meu coração numa cassete, enfiava-a no meu corpo, fazia-me viva, mas saía de mim. Gostava de me ver. Não quero homens de meia-idade, não quero.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

domingo, 2 de maio de 2010

Eternal sunshine of the spotless mind

Joel: I can't see anything that I don't like about you.
Clementine: But you will! But you will. You know, you will think of things. And I'll get bored with you and feel trapped because that's what happens with me.
Joel: Okay.
Clementine: [pauses] Okay