sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Meu querido amor:

Escrevo da janela do teu quarto, porque agora não me sinto sentada no teu cadeirão preto sisudo, sinto-me fora a olhar para o céu, para a grande cor que me ensinaste a ver desde que te conheci, olho para as árvores, para o sol que se põe atrás delas a medo, para traduzir o que vem de lá de fora que cai em mim sob formas que desconheço (pobres olhos). E eu não sei se o que vem lá de fora, vem cá de dentro, nem sei, muito menos, se o que as minhas mãos escrevem é o amor que elas sentem pelas tuas e não o que as outras partes sentem. Não sei nada disto meu amor, nem sequer o que me apetece escrever a seguir, nem o que faz a vontade de fazê-lo, mas sei que gosto de sentir o teu cheiro, e de todas as vezes que cheiro a tua roupa que carinhosamente dobro, ele é sempre o mesmo, a minha memória está impregnada dele e, se ela fosse um quarto, teria o teu perfume, ou mesmo um palácio, ou até mesmo numa parte do bosque com que sonho vezes sem conta, e, mesmo sonhado, sem ser um jardim muito bem arranjado, com as plantas geometricamente descritas sobre o plano, é sonho, não é bonito e é sonho, cheira a ti e não tenho nariz naquilo que silenciosamente penso.