quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Notas

Até ontem olhava para a meteorologia com desdenho, hoje compreendo-a, hoje faço pré-conceitos do tempo que vai fazer amanha, chego, inclusive, a aperceber-me das formas geométricas que, há uns tempos, alguém me havia dito que aconteceria, exactamente após a experiência estética que tive, num dia de chuva como este, - hoje não choveu, mas há algumas propriedades neste dia que me fazem identificá-lo desta forma. Amanhã sei que vai fazer bom tempo, pelo menos, tanto tempo quanto a minha mente quiser, durante o tempo que penso nas horas de há bocado. Acho que as verdades universais são percepcionadas pelo Homem, quando este não pensa, e, por pensar, neste preciso momento, sobre a verdade que as sustenta, digo “acho”, se dissesse com certeza, negaria a minha própria tese. É, de facto, essa mistificação do acto pleno de não pensamento, no qual o espaço e o tempo são postos no armário, as memórias se evaporam, o corpo treme, e tudo o resto que acontece, são processos naturais e físicos apenas -, quero com isto dizer que, o conjunto das transformações físicas que decorrem de um acto mutilado de pensamento, jamais poderão, a partir daquele momento, serem lembradas ou analisadas. É como se tudo o que se percepciona, de repente, deixasse de ser questionável, ou pensado, é apenas sentido. Digamos, portanto, que é um corpo que sente, e não um ser que também é corpo.
Diria que as verdades que procuramos não são impossíveis de encontrar, na medida em que há essa possibilidade, mas, quando a há, nós estamos incapacitados de a percepcionar, de a traduzir. Sabemos que a mesma energia que nos abraça neste momento, é exactamente equivalente à resposta que procuramos – daí o amor ser tão valorizado em nós, racionalmente dotados.
Hoje, apercebi-me da geometria das coisas, como verdade última de tudo o que existe -, imaginem um espaço amplo, um ponto no meio desse espaço, uma linha de comboio encostada (a desenhar formas estranhas no mundo), comboios que passam regularmente, informando-te (sendo a única maneira) de que o tempo passa, porque vês de fora, como um observador ideal, algumas luzes que se acendem e apagam, tentando transmitir algo, ainda que a sucessão temporal, de um comboio para o outro, seja a única prova de que o tempo passou. Olhaste timidamente para o relógio, um pouco assustada certamente, achavas que se tratavam de anos, quando no mundo real significaram apenas minutos. Junta mais um mundo ao plano. Vês o quadrado?! Vês quadrados, rectângulos, linhas paralelas, corpos paralelos cantando em uníssono, eu diria mais, vendo em uníssono.
Estou transpirada, vi tanto hoje e cansei-me, “às vezes a beleza é tanta que penso não conseguir aguentá-la”.