Desenhou-lhe um triângulo na testa, depois de se terem satisfeito mutuamente. Desta vez, o sangue não estava explícito, mas corria nas veias dos seus dedos. O silêncio fez eco naquelas paredes, e propagou-se no corpo, da mesma forma que se propaga no Universo, viajou para lá, encaixando-se no vácuo onde ficam as coisas que não se libertam. Já tinham saudades de ver diminuir a distância que os une, e, unidos pelo mesmo desejo, viajaram sobre a matéria, encontrando o espírito. Depois de o encontrarem, sentaram-se ambos num cadeirão verde-escuro, qual posição de observador ideal, e vislumbraram o sentimento; eles não se lembram de terem visto coisa alguma, mas sabem que viram, qual piratas que avistam a terra ao longe, qual crianças que se saciam com a resposta de um adulto. O pecado não lhes sabe a maçã. A nenhum mortal, o pecado lhe sabe a fruta.
Numa noite igual a esta, ele desenhou-lhe um triângulo na testa, proferiu as palavras mágicas, que afinal são meros meios para atingir a intenção, abraçou-a e puxou-a para ele, encostaram-se nelas e dormiram nas palavras; de repente, mais frases se juntaram ao contexto. Ele não gosta de frases, gosta de ver; ela não vê, pensa. Ele pôs a mão no ventre dela, exausto. Ela virou-se, fechou os olhos e fingiu não pensar.
Retomando a primeira noite, eles satisfizeram-se mutuamente, pela segunda vez. A matéria torna-se fácil de descobrir, quando o interesse passa a ser o desenho de três lados. Satisfizeram-se mutuamente, pela terceira. E, ainda que a sucessão dos dias continuasse a sua tarefa, tal como no relógio, a viagem é sempre a mesma, a deles também o é (mas não há memória dela). Ele voltou a desenhar-lhe um triângulo, e ela espantou-se da mesma forma que o fizera nas outras vezes anteriores, sem o saber. O amor dura mais do que aquilo que pensaram. Ao satisfazerem-se pela quarta vez, imaginaram a matéria da felicidade, e, considerando que esta tem curvas, seria algo parecido ao símbolo que os humanos convencionaram para denominar infinito. Este jogo ridículo e ondulante, do “entra e sai” das fases que os engolem como carnívoros esfomeados, esta forma de movimento que não os move, que os remete para um não-lugar, esta utopia desenfreada, não pensa em finais, caso contrário, o que as faria continuar?!
O final foi sempre diferente e, com eles, foi ao contrário.