
Eu tenho quatro corpos. Andamos sempre aos pares porque gostamos de andar assim. “O Demiurgo é um ser híbrido.” Luto diariamente por um corpo e, não sabendo qual escolher, vou lutando por tudo e por coisa nenhuma até que a decisão me pareça mais clara que todo este combate sangrento azulado. Queria que ganhasse o mais fraco, para que a fraqueza que jaz na minha alma fosse mais forte que a força e que da próxima vez estas forças se anulassem mutuamente e eu não me cansasse deste inferno. Viajar no mundo onírico é sempre mais agradável que a prisão do físico; seria melhor pensarmos que a matéria foi-nos dada para sabermos a diferença entre o paraíso, o sonho e o inferno, o mundo concreto e não o contrário.
A dura realidade é sabermos que o ser humano foi ensinado a dar demasiada importância à realidade física; deu-lhe tanta que não sobra nenhuma para o inconsciente, esse poderoso filósofo. Se nada tem cor, que cor têm as coisas? Que cor é a cor do nada? A mim, parece-me mais plausível o preto do que o branco.
E, se começamos sempre ignorantes e vamos crescendo, então cada vez mais caminhamos para o que não é objectivo, e ainda bem. A vida física é um cancro que se alastra até que nos mata. A mente possui a chave, tudo o resto é uma luta.