sábado, 21 de novembro de 2009

27 de Agosto de 1998





As nuvens dizem-me o caminho, quer eu vá só ou acompanhada; não me preocupo porque os presságios estão em todo o lado. Se olharmos com atenção, vemos no quarto, uma jarra de rosas, uma virgem e uma janela, uma estação de comboios, um revólver e um limão. Nunca me esqueci da pistola, e, para quem não sabe, esta acompanha-me desde há muitos anos. Estes ditos avisos são pedaços de vida de outras pessoas, porque quem morre, quem se deixa ir para o outro lado, deixa sempre algo cá, nem que sejam as mais mundanas circunstâncias, como os eternos objectos de uma casa , da nossa casa.


A cama que se faz e desfaz todos os dias, o leito de um rio que não faz deitar sempre a mesma pessoa no mesmo curso, é um baú de memórias. Guarda o cheiro e as lágrimas, porque os sorrisos ficam sempre connosco, ainda que irónicos, há sempre alegria onde não deve, por isso mesmo, sofrer irrita tanto.


Nesta noite de Verão, desenhei uma mota de carvão numa carta do banco, meditei sobre a sua forma e pensei que, mesmo sem cor, fazia-me associá-la a qualquer coisa para além do óbvio; pois, não era a cor das coisas que me faziam voar, mas a sua forma. Viajar naquela mota, teria sido, sem dúvida, o que mais precisava naqueles dias. Porque escrever sobre outros dias, fazia-os sempre diferentes.


“Nada dura para sempre.” Preciso de um silencioso quarto.