terça-feira, 10 de novembro de 2009

17 de Novembro de 1997

Está frio. O Inverno começou no mundo real. As ruas continuam sujas de tantos pecados terem-na, já, pisado. Procurei um sítio, muito escondido, no meu quarto. A minha cama parecia-me demasiado vulgar para me refugiar, já que servia todos os dias a minha plena insanidade; pensei em algo que nunca tinha experimentado e, chegando à brilhante conclusão de se tratar de um sítio jamais pensado, jaz a realidade de que tão cedo não vou encontrá-lo, parti para uma ideia alternativa, fui para um sítio cheio de pó, escuro e de certa forma húmido, a parte que fica entre o chão e o colchão.
Nesse espaço, retratei assuntos profundos e ridículos, organizei a minha memória, cantei canções preciosas de artistas não menos solitários do que eu e, esquecendo o dia de amanhã que viria, pensei, na depressão que seria voltar ao trabalho, no dia a seguir, ao dia que me escondi debaixo da cama.
Falta pouco para o Apocalipse, pensei. Realmente, faltava pouco para que os meus pais discutissem de novo...não! O que realmente queria exemplificar, não era uma discussão típica de um casal típico da problemática típica do século XXI, mas sim algo mais profundo, mais denso, mais controverso, de impossível percepção social e estudos psicológicos. Não obstante, numa tentativa de facilitar as coisas, digamos que discutiram. E, sendo eu uma veterana do século XX, não posso entrar numa pura adivinhação do século que sucede. É ilícito!
E, nesta noite de Novembro de 1997, que nada sei do que digo, muito menos o que penso, seria esta a análise correcta que deveria ter feito, nesse ano, sobre todos os acontecimentos familiares inerentes à minha pessoa. Sim, de facto, não há análise de tudo, como já seria de esperar, quanto mais caminhamos em direcção á ignorância, maior é a percepção dela, maior é o conhecimento.
Proibida de escrever qualquer coisa que transpareça um negativismo infindável, fujo ao que sou, ando às voltas e não paro. Novembro de 1997 poderia ter sido qualquer dia. Eles são todos iguais, mas não se repetem.