Os girassóis murcharam porque não encontraram sol em mim. Realmente, devo ser o único contra-exemplo que refuta o ser híbrido criador deste mundo. No mundo há tristeza e alegria, há o sol e a luz, há o mar e a terra, o azul e o vermelho, o preto e o branco, o frio e o calor, a chuva e o vento, o palhaço e o mimo. Em mim, o que há? Há a tristeza, há o medo, a apatia, a dúvida e a loucura. Em mim não há mais nada, porque as dúvidas dão forma à solidão que está líquida. E o que antes eram lágrimas são agora cubos de gelo, icebergues emergidos no oceano que é o inconsciente. Vinte oceanos o devem ser; infinitos rios que teimam em cursar muito mais acima.
E o grande Alexandre que se perdeu na grande aventura. Já no tempo em que rasgara o ventre da sua mãe, as perspectivas eram altas, altíssimas como a falésia da qual caí, uma vez na vida. E também ele caiu e nunca mais voltou. Corajoso é aquele que volta sempre. E eu, despertando para a realidade, voltei. Às vezes, perdida nos fluidos oceânicos não tão límpidos que escorrem cem metros abaixo do possível mergulhável, penso e procuro pela loucura que me fez despertar tais instintos e, ainda, pela maior que os negou à força toda. Descubro, propositadamente, um outro “eu” em mim. Um que existe apenas para me afligir. Apenas para me lembrar de todos os pecados que cometi, de todos os crimes que posso vir a cometer, de todas as futuras situações ingloriosas. Logo depois, aparece o outro. Mais fraco por sinal. Um anti-corpo que combate delicadamente a doença. E, se eu fosse só corpo? Tal como as flores que são flores e os girassóis que nunca foram mais nada senão girassóis. Este episódio do surgimento de dois seres em mim, diz-me que “o mim” é tão anatomicamente bem construído como o meu corpo.
Quem me dera não sentir, para não pensar. Os Girassóis voltaram-se e murcharam. Ficaram para sempre eternos nesta fotografia.